Você tem acompanhado de perto o guia alimentar se seu país quando escolhe sua comida diariamente? Se sim, talvez você queira repensar se os guias são mesmo saudáveis para você e para o planeta.
Pesquisadores analisaram o guia alimentar de 85 países para avaliar os impactos na saúde e no meio ambiente causados pelos grupos de alimentos recomendados. As descobertas foram chocantes: nenhum dos 85 guias é sustentável nem saudável o suficiente para se alcançar as metas de desenvolvimento sustentável definidas pelas Nações Unidas. Dentre outras recomendações, os cientistas afirmam que esses guias poderiam fornecer conselhos mais compreensíveis para que seus cidadãos reduzam o consumo de alimentos de origem animal, como a carne e os laticínios, pelo bem do meio ambiente. Eles argumentam que, para que as pessoas tenham hábitos alimentares mais saudáveis, os guias deveriam encorajar um maior consumo de alimentos vegetais, como grãos integrais, frutas e legumes, nozes, sementes e verduras.
Você deve estar se perguntando, “como eles chegaram a essa conclusão?” – e “saudável” e “sustentável” de acordo com que parâmetros?
Saúde
A redução das taxas de mortalidade por doenças crônicas em um terço é um dos objetivos propostos pelas metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas e, portanto, é um desafio que deve ser enfrentado por todo guia alimentar. De acordo com o estudo, o alto consumo de carnes vermelhas e processadas e o baixo consumo de frutas, vegetais, castanhas, grãos e sementes são fatores que contribuem para a morte prematura por doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). Assim, guias alimentares devem aconselhar as pessoas a reduzirem ou evitarem esses grupos alimentares e a ampliarem o consumo de vegetais.
Isso não é nenhuma surpresa. Muitos estudos já provaram a relação entre o consumo de alimentos de origem animal e diversas doenças como o câncer e as cardiovasculares.
Um relatório da Organização Mundial de Saúde, de 2014, mostra que o consumo tanto de carnes vermelhas quanto processadas está associado a vários tipos de câncer, enquanto uma pesquisa conduzida pela Universidade da Califórnia foi ainda além, argumentando que carnes vermelhas e brancas aumentam os níveis de colesterol LDL (o colesterol ruim) quando comparadas a uma dieta sem carne.
Segundo uma das recomendações alimentares da pesquisa, uma vasta quantidade de estudos tem indicado que o leite não é saudável como muitas pessoas pensam. O consumo de laticínios não só tem relação com vários tipos de câncer, como também está associado a fraturas ósseas, diabetes e aumento de mortalidade. Alguns países já estão se atentando para isso: no começo de 2019, o Canadá eliminou as recomendações diárias de laticínios de seu guia nacional de alimentação, depois de ter recomendado o consumo de várias porções de laticínios a seus cidadãos por quase 80 anos!
Meio ambiente
Para medir o quão sustentável é cada guia nacional de alimentação, os pesquisadores avaliaram se os grupos de alimentos recomendados em cada um são compatíveis com as metas ambientais e de saúde global. Os elementos levados em consideração são, por exemplo, as emissões de gases de efeito estufa, o uso de terra e água na produção dos alimentos e os recursos necessários para importá-los, exportá-los e processá-los.
Já deveria estar claro que alimentos de origem animal não são nada sustentáveis para o meio ambiente. A pecuária é responsável por entre 14.5% e 18% de todas as emissões de gases de efeito estufa causadas por humanos. De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), das Nações Unidas, a carne é responsável por 41% de todas as emissões do setor de alimentos, enquanto a produção de leite representa 20% das emissões. Ambas também requerem muita terra e água.
Muito se diz sobre os impactos ambientais da carne vermelha, mas a produção de ovos também é um importante fator na contaminação de solo e água. Cientistas da Universidade de Oviedo, na Espanha, analisaram os efeitos da produção intensiva de ovos e concluíram que ela tem tido um impacto significativo na poluição da água e solo, especialmente devido à gestão de resíduos e às rações avícolas.
E o nosso guia nacional de alimentação?
O Guia Alimentar para a População Brasileira foi criado tendo justiça social e impactos ambientais em mente. De acordo com o documento, um maior consumo de alimentos vegetais e a limitação de alimentos de origem animal podem contribuir para essas metas. O guia diz que o consumo de arroz, feijão, milho, mandioca, batata e vários outros tipos de legumes, verduras e frutas pode fornecer sustento à economia local e reduzir o impacto ambiental causado por nossas dietas. O guia brasileiro é o único dos guias nacionais, dos países em que a Sinergia Animal opera, que ressalta a relação entre alimentos de origem animal, a pecuária intensiva e as catástrofes ambientais.
Em resumo, a dieta de todo mundo pode ser mais saudável e sustentável se comermos mais alimentos vegetais e reduzirmos – ou, ainda melhor, eliminarmos – os produtos de origem animal em nossa alimentação. Se quiser fazer ainda mais, você pode apoiar a agricultura familiar e comprar do comércio e da produção locais para reduzir a pegada de carbono causada pelo transporte de longa distância.
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