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SA rebate campanha da Associação Brasileira de Proteína Animal sobre impactos da pecuária


Numa tentativa de promover a exportação de frango e carne suína brasileira, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) lançou em dezembro uma campanha em que tenta promover o setor como de baixo impacto ambiental. Porém, as imagens de cachoeiras e onças na Amazônia escondem uma realidade que está longe de ser ambientalmente adequada.


Segurança alimentar e saúde


A ABPA presta um verdadeiro desserviço ao promover o consumo de carne como uma solução para a segurança alimentar, quando a realidade é justamente a oposta.



A maior parte dos grãos vira ração, não alimento humano, e a alta demanda por grãos eleva o seu preço, o que também afeta a segurança alimentar.


Um estudo recente das Nações Unidas comprova que uma mudança para dietas compostas predominantemente de vegetais melhora a segurança alimentar da população mundial. Além de ser mais sustentável e mais barato, esse modelo alimentar também traz benefícios à saúde, já que, segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde, ingerir vegetais integrais, como frutas e legumes, confere proteção contra doenças do coração e certos tipos de câncer. Por outro lado, uma alimentação centrada em proteína animal está associada a doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.


Desmatamento


A campanha da APBA também comenta que a maior parte de suas produções está distante do bioma Amazônico. Em termos ambientais, estar geograficamente longe não implica zero impacto. Além da Amazônia, há também outros biomas severamente impactados pelo setor, que igualmente precisam de proteção.


A produção de grãos para as rações animais também tem um grande impacto no Cerrado brasileiro, a savana com maior biodiversidade do mundo, capaz de estocar o equivalente a 13,7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, contribuindo para mitigar a liberação de gases de efeito estufa.


Apesar de sua importância incontestável, um estudo de 2019 estima que metade das fazendas de soja desmataram o Cerrado mais do que o permitido pelo código florestal . Dados do MapBiomas mostram que o bioma já perdeu 28 milhões de hectares de vegetação nativa nos últimos 35 anos. Estima-se que mais de metade da soja produzida no Brasil provenha do Cerrado.




Benefícios socioeconômicos para as regiões


Além do impacto ambiental, a expansão da produção de soja no Cerrado também tem um forte impacto social. Um estudo concluiu que a transformação social que a soja tem gerado no Matopiba é altamente excludente. Um dos autores comentou que isso não caracteriza desenvolvimento, e sim a “apropriação de recursos naturais de comunidades da região para um setor altamente concentrado do agronegócio".


Um estudo recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Organização Internacional do Trabalho, sobre a transição para uma economia com zero emissões líquidas na América Latina e no Caribe (ALC), ressalta que a mudança para dietas mais saudáveis e sustentáveis, que reduzem o consumo de carne e de laticínios e aumentam o de alimentos à base de vegetais, criaria empregos e reduziria a pressão sobre a biodiversidade única encontrada nessas áreas da região. Com essa mudança, o setor agroalimentar da região poderia criar o equivalente a 19 milhões de empregos em período integral, o que compensaria amplamente a redução de 4,3 milhões de empregos nos setores de pecuária, avicultura, laticínios e pesca.


Emissão de gases de efeito estufa


A produção de proteína animal também tem uma grande contribuição para as mudanças climáticas. Globalmente, a pecuária é responsável por 14,5% das emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem. Se nada mudar, cientistas preveem que, dentro de 10 anos, o setor emitirá metade das emissões permitidas dentro do cenário de aumento máximo de 1,5°C da temperatura global. Em 2050, seriam 80%.


Para ficarem dentro dos limites definidos pelo Acordo de Paris, todos os setores terão que reduzir as suas emissões, inclusive o setor de produção animal.


Bem-estar animal


Os animais criados na suinocultura e na avicultura, por exemplo, são mantidos em condições paupérrimas e cruéis, muitas vezes confinados em espaços sujos e superlotados. A grande maioria nunca poderá pisar na terra, brincar ao sol, socializar livremente e cuidar de seus filhotes de forma natural. As porcas são mantidas a maior parte de suas vidas em celas onde sequer conseguem dar uma volta ao redor de seus corpos ou deitar confortavelmente. Algo similar acontece com as galinhas poedeiras, que são confinadas em espaços em que não podem nem mesmo esticar completamente suas asas. Já os frangos vivem em galpões com altíssimas densidades. Essas condições podem representar um grande fator de estresse para os animais. Em suas vidas encurtadas, muitos são expostos a mutilações como corte do rabo, dos dentes, do bico e a castração, na maior parte das vezes sem qualquer tipo de alívio de dor.




Pandemias


A produção intensiva de animais favorece a expansão de pandemias. Em 2009, a gripe suína H1N1 pode ter causado a morte de até 575 mil pessoas. Em 2020, cientistas anunciaram terencontrado um novo tipo de gripe suína, que também pode infectar pessoas e, como tal, tem o potencial de causar uma futura pandemia.


O contato intensivo entre grandes grupos de animais, geneticamente similares, facilita a propagação de vírus e outros patógenos, assim como novas mutações, que podem ser ainda mais letais. Essas condições permitiram que a febre suína africana, uma doença de alta letalidade para suínos, dizimasse 40% do rebanho da China em 2019. Por enquanto, a febre suína africana não é transmissível entre humanos, mas ela ilustra o risco que a pecuária intensiva representa como potencial fonte de zoonoses.


A produção industrial de animais é inevitavelmente insustentável. Para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, assim como os Objetivos do Acordo de Paris, é necessário e urgente mudar o nosso sistema de produção de alimentos. É preciso fazer uma transição para sistemas de produção agroecológicos, regenerativos e socialmente justos, e, consequentemente, promover dietas mais saudáveis, centradas em alimentos de origem vegetal. Não se deixe enganar: a carne da ABPA não é boa nem para as pessoas, nem para o planeta, e muito menos para os animais. Só quem se beneficia são algumas empresas, que garantem para si lucros ainda maiores.


Ajude a Sinergia Animal a continuar lutando contra essa indústria, que é uma das mais nocivas do mundo não apenas para os animais, mas também para o meio ambiente e a saúde humana. Clique aqui para doar.

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