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Estamos em um processo de extinção massiva, veja o que está por trás disso

O consumo de produtos de origem animal impõe uma vida de sofrimento para os animais explorados pela indústria alimentícia, os mais abusados e negligenciados do mundo. Mas nosso sistema alimentário atual tem ainda um outro sério efeito colateral para os animais: 60% dos mamíferos, aves, peixes e répteis do planeta desapareceram desde a década de 70 até 2014, tudo como resultado da atividade humana, de acordo com o Living Planet Index, um relatório produzido pela Sociedade Zoológica de Londres para a WWF. Em habitats de água doce, as populações caíram 83%.

Isso é conhecido hoje como a sexta extinção em massa, um processo em andamento em que a vida selvagem está sendo decimada em um ritmo até mil vezes mais acelerado do que o natural. Além de prejudicar animais que deveriam viver em paz e ter habitats seguros e recursos, a dramática diminuição da vida natural coloca em questão a vida humana na Terra. Por exemplo, muitos animais e plantas ajudam a regular a temperatura, clima e polinização no planeta. É um risco que não podemos correr.

Nossas dietas — particularmente o hábito de consumir produtos de origem animal — é um dos principais fatores por trás desse desequilíbrio. Um estudo publicado pela National Academy of Sciences mostra que, atualmente, 70% de toda a biomassa do planeta é composta por frangos e que 60% de todos os mamíferos são animais criados para consumo, em sua maioria vacas e porcos, 36% são humanos e apenas 4% são animais selvagens.

Sabe por que a produção animal é um dos principais fatores para a perda da vida selvagem?

Perda de habitat

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), "a pecuária é a atividade que mais usa terra no mundo, com pastagens e lavouras dedicadas para a produção de alimentos para animais representando quase 80% de todas as terras agricultáveis. Lavouras para alimento de animais são quase um terço do total das lavouras, enquanto o total de áreas ocupadas pelo pasto equivale a 26% de toda a superfície terrestre sem gelo". De acordo com a WWF, 79% da soja produzida no mundo é usada para alimentar animais explorados para consumo.

Esse fator causa destruição significativa de florestas tropicais e outras áreas naturais vulneráveis, especialmente no Sul Global: América Latina, África e Ásia, e, assim, colocando a vida selvagem e a biodiversidade em risco.

Quer um exemplo trágico? Os incêndio de 2019 na Floresta Amazônica começaram com pecuaristas. Atear fogo na floresta é uma técnica bastante disseminada entre os fazendeiros para abrir espaço para pasto. Sempre foi feito dessa forma no Brasil, e sempre foi uma opção perigosa. A diferença é que, em 2019, a área devastada foi 85% maior se comparada ao ano anterior porque os pecuaristas queriam mostrar que estavam "trabalhando duro".

A pecuária é uma das maiores causas de desmatamento da Amazônia em todos os países amazônicos, contribuindo em 80% das taxas de desmatamento. Aproximadamente 450 mil quilômetros quadrados de áreas desmatadas no Brasil agora são usadas para pastagem.

Territórios incendiados na Amazônia em 2017. Foto: Felipe Werneck/Ibama.

Beleza, então você come só carne produzida localmente? Mas você come carne? Se sim, há grandes chances de que a soja dada aos animais que você consome venha de áreas desmatadas. Se você ficou chocado com o incêndio na Amazônia, deveria saber que 80% da soja lá produzida é destinada à alimentação de animais explorados para consumo ao redor do mundo.

“Podemos dizer que, se você come um bife, mata um lêmure em Madagascar. Você come um frango, mata um papagaio na Amazônia", diz Gidon Eshel, geofísico do Bard College, em Nova York, que estuda como as dietas humanas afetam o meio ambiente. É uma equação simples (e aterrorizadora): quanto mais produtos de origem animal comemos, mais terra usamos, menos áreas intocadas são deixadas para a vida selvagem.

Abatendo animais — ou matando-os de fome

Como mencionado acima, há inúmeras fazendas ao redor de florestas (especialmente por terem sido criadas em áreas desmatadas). Toda a vida selvagem da área foi ou morta, ou expulsa. É normal que animais selvagens voltem para tentar encontrar alimento, e encontram: o pasto que passou a ser destinado ao gado, ou até mesmo os próprios animais criados na fazenda.

Fazendeiros vêem os animais selvagens como uma ameaça à produção e os matam. Lobos e felinos, por exemplos, são abatidos por predar o gado. Bisões, cangurus, zebras e búfalos competem com o gado por pasto.

Outros, como texugos, estão sendo cruelmente mortos por transmitirem tuberculose ao gado. Animais importantes para o equilíbrio ambiental, como insetos, por sua vez, são afastados pelas monoculturas (em grande parte usada para alimentar os animais) ou mortos pelo uso intensivo de pesticidas.

Além disso, para proteger e conter o gado (que nem deveria estar lá, para começar), pecuaristas criam cercas que impedem milhões de animais selvagens de continuar sua migração, resultando em diversas mortes desnecessárias por desidratação ou fome.

Superexploração de recursos e poluição

Em outros casos, a superexploração causada pela pesca é o que está causando dano significativo. Por exemplo, anchovas e sardinhas são pegas em larga escala, para alimentar salmão, porcos e galinhas. Com a queda na disponibilidade desses animais, toda a cadeia alimentar muda, e animais que originalmente deveriam comê-los, como pinguins, passam a ter dificuldade para encontrar alimento.

Água é outro recurso que requer atenção, já que a produção animal é um fator crítico para a poluição. A maior parte da água consumida pela indústria de produção animal volta para a natureza sob a forma de excremento líquido: uma substância cheia de elementos patogênicos, metais pesados, resíduos de drogas, hormônios, antibióticos, que poluem não apenas água da superfície, mas também o lençol freático.

De acordo com a FAO, rejeitos advindos da produção animal apresentam uma das maiores demandas de oxigênio, o que significa que são matérias orgânicas que consomem muito oxigênio da água para se decompor, levando a um aumento significativo do risco de eutrofização e crescimento de algas em lagos, reservatórios e áreas costeiras.

Como resultado, essas zonas contaminadas não oferecem um ambiente em que animais aquáticos podem viver, nem contêm água que os terrestres possam beber. Uma das maiores áreas desse tipo é a zona morta do Golfo do México. Trata-se de uma região de água sem oxigênio de aproximadamente 22,6 mil quilômetros quadrados na costa dos Estados Unidos, quase metade do tamanho da Dinamarca, de acordo com pesquisadores da Louisiana State University.

Segundo um relatório da Mighty Earth, a zona morta surgiu como resultado de toxinas de excrementos de animais e fertilizantes sendo jogados diretamente no mar. Uma das empresas que estão sendo responsabilizadas por isso? A Tyson Foods, segunda maior processadora de carne do mundo.

Intensificação dos efeitos das mudanças climáticas

A produção animal representa entre 14,5% e18% de toda as emissões de gases de efeito estufa de causa humana. De acordo com a FAO, a carne vermelha responde por 41% das emissões desse setor, enquanto a produção de leite representa 20%. Em 2016, as três maiores empresas processadoras de carne do mundo — JBS, Cargill e Tyson — foram responsáveis por mais gases de estufa do que a França inteira.

Isso significa que a criação de animais para consumo humano tem um papel crítico nas mudanças climáticas e todas as catástrofes naturais que vêm com ela: incêndios frequentes, longos períodos de seca em algumas regiões e aumento no número, duração e intensidade de tempestades tropicais.

Claro, isso impacta a vida selvagem. Basta lembrar dos incêndios na Austrália que começaram em setembro de 2019, e vitimaram 26 pessoas e um número estimado de um bilhão de animais. Entre eles, possivelmente 25 mil coalas morreram queimados e 10 mil camelos seriam mortos para economizar água.

Com mais de 10 milhões de hectares em chamas, uma área maior que o tamanho da Áustria, a expectativa é de que alguns ecossistemas se recuperem em alguns anos. No entanto, outros podem levar mais de um séculos e outros podem jamais voltar a ser o que eram antes.

A mudanças climáticas ainda estão aquecendo as águas oceânicas, bem como as emissões de carbono estão tornando as águas mais ácidas, afetando recifes de coral, considerados pela Unesco como os "berçários dos oceanos" e "pontos-chave da biodiversidade". Em alguns recifes tropicais, por exemplo, podem ser encontradas mais de mil espécies por metro quadrado — ou podiam, antes do impacto do aquecimento global. Agora, apenas 27% das formações de recife monitoradas já foram perdidas e cerca de 32% correm risco de serem perdidas nos próximos 32 anos, de acordo com a NASA.

Foto: Greenpeace

Pesca excessiva, acessória e equipamentos de pesca

De acordo com a Unesco, até 2100, "mais de metade das espécies marinhas podem estar extintas", se nada melhorar. E um dos fatores que precisam mudar é a indústria pesqueira, responsável por um problema triplo: pesca excessiva, pesca acessória e equipamentos de pesca abandonados ou descartados nos mares. Um relatório da WWF mostra que, globalmente, populações de animais marinhos vertebrados já foram reduzidos em 49% entre 1970 e 2012, e que cerca de uma em cada quatro espécies de tubarões e arraias agora estão sob ameaça de extinção, devido sobretudo à pesca excessiva.

A pesca excessiva basicamente está tirando dos mares muito mais do que a natureza é capaz de repor — para não dizer que ela representa a morte de bilhões de seres sencientes. Ela também tem impactos em toda a cadeia alimentar, uma vez que cria lacunas em espécies muito exploradas, o que significa que seus predadores não encontram alimento com facilidade. A WWF estima que 29% das áreas pesqueiras marinhas estavam nessa situação em 2015.

Além disso, a indústria pesqueira comumente usa redes de deriva, uma técnica que requer instalar redes verticalmente nas águas para pegar todo peixe que passe pelo local. No entanto, por causa da diversidade de espécies marinhas, muitos outros animais acabam ficando presos acidentalmente, o que é chamado pesca acessória.

A WWF estima que pelo menos 40% dos animais pescados são resultado de pesca acessória, ou 38 milhões de toneladas de animais pescados anualmente no mundo. De acordo com eles, mais de 300 mil pequenas baleias, golfinhos e botos morrem presos em redes de pesca todo ano, fazendo da pesca acessória a maior causa de morte entre os cetáceos.

O que sobra das redes de deriva e outros equipamentos de pesca usados pela indústria são simplesmente jogados no oceano. O Greenpeace estima que, todo ano, mais de 640 mil toneladas de redes, linhas e armadilhas usados pela indústria pesqueira são descartados no mar. Eles concluíram que equipamentos de pesca perdidos ou abandonados deliberadamente são um dos maiores poluidores dos oceanos, representando até 85% do lixo em algumas partes do Oceano.

Frequentemente, animals acabam enroscados nesses equipamentos e morrem sufocados ou de fome, ou se enganam e pensam que o plástico é alimento. Alguns dos animais mais afetados são crustáceos, tartarugas, aves, baleias, tubarões e golfinhos. Em 2018, por exemplo, cerca de 300 tartarugas marinhas foram descobertas mortas, flutuando em águas mexicanas, depois de ficarem presas nessas redes de pesca.

Essas cinco razões são mais do que o suficiente para provar que parar de consumir produtos de origem animal é importante não apenas para os animais explorados, mas também pode evitar que muitas espécies de animais selvagens sejam prejudicados também. Se você está preocupado com a biodiversidade e quer fazer algo a respeito, clique aqui para descobrir como começar uma dieta vegana.

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